Thursday, April 14, 2011

Contos e Poemas

Valdir Coimbra
Sentado sobre uma das muitas malas que os pais haviam colocado à beira da estrada, o garoto tentava engoli o nó que surgira na garganta enquanto olhava para a pitombeira onde tantas vezes ele brincara com os primos e os outros garotos do povoado. A distração era tão grande que o garoto demorou a ouvir a voz de sua mãe que já lhe chamava há algum tempo.
– Sinhora mãe! – As duas palavras saíram apertadas entre o nó que enchia toda a garganta do menino, e que ele a todo custo evitava converte-lo em lágrimas.
– Meu filho! Você não vai toma a benção dos seus avós não?
– Já vou mãe!
– Rápido que o ônibus já esta chegando.
O garoto levantou meio sem vontade e caminhou em direção à casa do tio, onde os familiares se despediam dos que iam viajar.
Não precisou entrar na casa, pois seus avós estavam sentados no terreiro.
– Bença vó! Bença vô!
As palavras quase não foram ouvidas pelos avós do garoto, que agora tinha mais dificuldade para engoli aquele nó que a cada instante aumentava ainda mais. Era um nó angustiante e que não adiantava tentar cuspi-lo fora como fizera tantas vezes com caroços de pitomba que teimavam e descer garganta abaixo, e que redobrou de tamanho quando foi pego de surpresa pela avó que o puxou pela mão e o apertou contra o peito.
Tentou desvencilhar-se mais de uma vez, mas não conseguiu. A avó, mesmo com os braços cheios de rugas ainda tinha forças o bastante para segurar o garoto, que àquela altura estava com boa parte do cabelo molhado de lágrimas da avó. Lágrimas que ele tentava não derrama-las.
O abraço durou apenas um instante, que para ele converteu se em horas. Horas que fizeram com que ele revivesse todos os momentos de felicidade que passara com a avó tão querida.
Quando se viu livre dos braços da vó, o garoto correu em direção às malas onde os irmãos e os pais esperavam o ônibus surgia na curva da estrada.
Os parentes começaram a abraçar-se e dizerem adeus em meio a lágrimas e soluços, por parte das mulheres. Mas ele não chorava. Não por que não sentia vontade, nem por que alguém algum dia lhe dissera que homem não chorava. Mas sim por que ele nunca tinha visto o pai chorando, nem mesmo quando perdera o pai; e assim, concluiu que os homens de sua família não deveriam chorar.
O motorista do ônibus buzinou avisando que já iria partir. O garoto deu mais um abraço na vó, agora de espontânea vontade. Tentou, em vão, engoli mais uma vez o nó que não descia para o estomago nem sai pela boca, isso por que não era um nó feito de coisa concreta, mas sim de coisa sentida, era feito da saudade que sentiria de todos, da dor de ter que deixar uma parte dos que amava. Portanto, era um nó que só poderia ser jogado fora por meio de lágrimas, e ela estava decidido a não chorar.
Largou a vó e entrou no ônibus em disparada enquanto os outros terminavam de arrumar as malas no bagageiro.
Sentou-se próximo da janela e colocou a mão aberta encostada no vidro como sinal de adeus. Sentiu os olhos molhados, mas conseguiu resistir.
O ônibus começou a andar e as pessoas foram ficando para trás com as mãos erguidas em sinal de adeus, ou quem sabe, até logo.
O garoto estava triste pela partida, mas estava feliz por ter conseguido manter os olhos enxutos enquanto quase todos choravam na despedida. Sentia que talvez nunca mais viesse a ver seus parentes que ficaram, mas isso não era o suficiente para fazê-lo chorar, embora o nó ainda estivesse na garganta.
O ônibus cruzou a ponte sobre o pequeno rio e quando ele olhou para a água onde ele tanto havia brincado não resistiu. Aproximou o rosto do vidro da janela e deixou as lágrimas rolarem. Era como se ambos chorassem, ele e o rio. Abriu a boca e silenciosamente disse adeus.

 

 

PARA SEMPRE

Por Leiliane Frozina
Distante de tudo. Era assim que me sentia. Vi-te, assim… Chorando implorei por teu amor. Tu apenas me olhaste e baixaste a cabeça. E num impulso ajoelhei-me aos teus pés, implorando por um pouco do teu amor.
Ainda assim não me viste. Ainda assim me esnobaste.
Foi então que tu saíste por aquela porta, eu ainda tentei impedir, mas tu com um ímpeto invulnerável empurrastes-me.
Fiquei naquela sala, sentado na velha poltrona de couro. Tomei um gole de rum e em meio a devaneio te vi entrar e me tomar nos braços. Era tão real que me deixei envolver por aquela sua doçura inefável.
Mais um gole de rum e começamos a sorrir alto. Tua gargalhada era inerente à minha alma e envolvente aos meus tímpanos.
Outro gole, mais outro e mais outro… Uma pausa no sorriso… Um beijo quente e cálido… Um apalpar macio que só tuas mãos eram capazes.
Então caí num sono profundo, ainda escutei teu último sorriso, mas tão distante…
Acordei no outro dia ressacado… A cabeça doía.
Uma garrafa vazia…
Dois copos…
Uma peça de roupa íntima jogada ao chão…
Marcas de teu batom pelo meu rosto…
Cheiro de teu corpo em meu corpo.
A porta entreaberta, barulho de chuva lá fora…
Estilhaços de vidros pelo tapete e tu ali, no chão da cozinha, com um punhal cravado no peito.
Meu Deus! Eu! Não posso acreditar!
Ainda em desespero, incrédulo de tudo aquilo, sem ao menos lembrar de nada, decidi cavar um buraco no quintal e colocar teu corpo. Plantei uma roseira branca em teu túmulo e enfim, limpei todas as evidências do crime que eu supunha ter cometido.
Agora tu não vais mais para longe de mim… Vais ficar na minha casa e na minha vida para sempre.

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